domingo, 21 de novembro de 2010
paradoxo
Eu vejo a vida passar nos vagões do metrô as seis da tarde. Ela passa nos olhos de cada pessoa que silenciosa e duramente espera chegar em seu destino. São olhos de dor, olhos vazios, olhos cansados, olhos que choram e olhos que fecham tentando dormir. A vida passa nas mãos que as equilibram em pé no metrô. São mãos maltratadas pelo trabalho manual, mãos com o esmalte já descascando, mãos que carregam um anel dourado, mãos que se fecham com raiva e mãos que carregam livros para tentar fazer a própria vida passar mais rápido. Passam pessoas de todas as idades, cores e classes sociais. E cada par de olhos e de mãos, e cada rosto e cada modo de andar parecem carregar um pouco da história de cada uma dessas pessoas.
domingo, 14 de novembro de 2010
Tem horas que eu não sei mais diferenciar onde acaba o medo e começa o desespero. Onde acaba o pânico e começa a angústia. Ou talvez, como no ponto em que o rio encontra o mar, eles se misturem e por instantes sejam um só. O estranho é que a nascente é sempre feita de alegria, e em algum ponto desconhecido se transforma. Ah, se eu soubesse onde fica o ponto… O buraco talvez não fosse tão fundo e nem a subida tão difícil. Mas aceitar faz parte e depois de tanto tempo, a dor e o medo já corroeram minha pele e cicatrizaram por dentro, de um modo que fazem parte de mim e talvez eu já não queira mais me livrar.
quarta-feira, 29 de setembro de 2010
Ela nunca havia sentido as coisas tão viradas quanto sentia hoje. Não sabia exatamente quando tinha começado, mas sentia virar fumaça sem poder fazer absolutamente nada. Ia perdendo-o por entre os dedos, sem saber como fecha-los para sustentar um resto que fosse. Via escorregar. Não podia também, dizer que gostava dele. Nem que desgostava. Acho que gostava de vez em quando. Gostava quando ele a levava em casa e brincava de um jeito leve com ela. Quando dormiam abraçados, tão juntos, num ponto que sentiam os batimentos cardíacos um do outro. Gostava das tardes que passava na casa dele, aquelas tardes que pareciam segundos, e os minutos sempre podiam ser prolongados.
Mas existiam os momentos que não gostava dele. Os momentos que pensava como podia estar com ele. Acontece que todos tem seus defeitos. E ela pesava defeitos e qualidades, como numa balança. Ora os defeitos pesavam mais, ora eram as qualidades. Mas, avaliando de um modo geral, ela estava convicta do que queria. E desistir não era exatamente sua escolha. Ou era?
quinta-feira, 5 de agosto de 2010
rápido desabafo
Tudo me incomoda. Desde o pingo do ar condicionado do vizinho até o modo em que se preocupam comigo. Ou fingem se preocupar. Sou obrigada a ligar meu próprio ar condicionado para abafar o som do outro. O frio gela meus ossos e congela minhas lágrimas. Escrevo para desabafar. Não acho que de fato alguém goste dos meus textos. Isso se alguém no mínimo se interessar em le-los. Pouco importa.
Antoine de Saint-Exupéry uma vez disse: ''tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas''. Não acho que ninguém se sinta responsável por mim.
segunda-feira, 2 de agosto de 2010
sexta-feira, 9 de julho de 2010
Deixa arranhar a garganta todo aquele resto de palavra não dita. Deixa infernizar a mente todo aquele resto de gesto não feito. Cada minuto que passa no relógio parecem horas. Deixa consumir os nervos todo aquele resto de súplica reprimida. Deixa contrair os músculos todo aquele resto de tensão que ainda sobra. Cada minuto que passa no relógio parecem horas. Deixa sufocar o pensamento com todo aquele resto de imagem ainda não esquecida. Deixa libertar a alma com todo aquele resto de culpa que acaba de ir embora. Cada minuto que passa no relógio parecem horas. Deixa fugir todo aquele resto de pessoa que ainda resta. Deixa ficar todo o resto de poesia. Cada minuto que passa no relógio não mais se parecem horas.
sexta-feira, 2 de julho de 2010
quarta-feira, 30 de junho de 2010
de volta ao velho ou poeira de estrela
E aquele antigo sentimento esquecido em uma gaveta no fundo da memória, sem aviso prévio sai e inunda minha vida e pensamento sem pedir licença. Como uma enchente que leva as casas embora deixando apenas lama e um fio dourado de velha esperança.
quinta-feira, 24 de junho de 2010
luzes da cidade
Marina da Glória, praia de Copacabana, Arpoador, Ipanema, Leblon e Lagoa. O avião furou as núvens e o pôr-do-sol furou meus olhos de um modo calmo e delicado que me transmitia uma grande e estranha paz.
Quando desceu, as praias e montanhas tinham sido substituídos por faróis de carros, casas e prédios que me atraiam de um jeito que eu não sabia definir. Indiscutível e inexplicadamente queria fazer parte daquele encantador, misterioso e desconhecido jogo de luzes.
sexta-feira, 18 de junho de 2010
A noite caía no Arpoador, pôr do sol turvo, embaçado pelas minhas lágrimas. Procurava retomar meus sentidos, mas as ondas entravam em minha mente, incapacitando-me de pensar, de sentir, de ouvir. O torpor me consumia por inteiro, sentia que se deitasse na pedra já fria não seria nunca capaz de me levantar. Um homem, com não mais de vinte anos me ofereceu ajuda. Eu aceitei um abraço e um ombro pra chorar. O vestido preto que me levara acidentalmente àquele lugar e a rosa vermelha que eu carregava em minhas mãos, fizeram o rapaz deduzir de onde eu tinha acabado de fugir. Timidamente me dizia que tudo ia ficar bem mas eu não conseguia ver como. Os esforços para as lágrimas não cairem eram em vão e em um determinado momento, perdi as forças e tudo ficou sombriamente escuro. Logo, minha mente também se apagou.
Apareciam os primeiros raios de sol por detras das montanhas, e batiam em meus dedos gelados, machucados pelo frio da madrugada. Os raios iluminavam meu rosto entorpecendo meu pensamentos e sentimentos até restar apenas a deslumbrante natureza daquela lugar pacato, que eu olhava, mas não conseguia ver. Meu irmão, que havia adormecido, vencido pelo desgaste emocional das ultimas semanas, acabava de acordar e se juntar a mim num longo abraço. Perguntava se tudo ia ficar bem. Eu repetia as mesmas palavras daquele desconhecido que nunca descobriria o nome e dizia que sim, que tudo ia ficar bem. Mas no fundo, eu ainda não conseguia ver como.
quinta-feira, 17 de junho de 2010
dúvida
Na minha frente vejo inúmeros papeis com rascunho de contos inacabados e me pergunto onde minha imaginação foi parar, não consigo terminá-los! Leio, releio e sei exatamente como quero que acabem, mas me faltam palavras. Então guardo-os novamente, ligo o som e abro um livro. Parece que todas as minhas idéias já foram tidas anteriormente por alguém.
E é assim, sem saber exatamente como e na dúvida do texto ser inteiramente meu ou não, que acabo este.
quarta-feira, 16 de junho de 2010
para ana k.
terça-feira, 15 de junho de 2010
Inteiramente largada e entregue a meu abismo interior, as lágrimas floresciam em meus olhos mas por algum motivo, não caiam. Naquele momento parecia mais fácil chorar e talvez por isso eu não conseguisse faze-lo. Ou talvez as lágrimas já tivessem secado em minhas longas e incontáveis noites em claro, onde tudo que conseguia ver era seu rosto. Um rosto que agora eu só veria em minha mente.
Anos antes, sentada em uma esquina, pensando no livro de minha vida que era facilmente relido por mim todos os anos e eu já sabia de cor a monotonia das páginas, ele veio. E permaneceu. Sempre naquela constante dúvida, naquele constante medo de assumir não para mim, mas para sí próprio seus sentimentos. Carregava consigo um ar de auto-suficiência que não passava de uma barreira de concreto contra o mundo e especialmente contra mim. Uma barreira que sim, o impedia de sofrer, porém não o deixava ser tocado. Com o tempo descobri uma falha na barreira e entrei. Acho que esse era o seu maior medo. Deu não só o conhecer, como entende-lo melhor que ele entendia a si próprio.