quarta-feira, 30 de junho de 2010

de volta ao velho ou poeira de estrela

Deitada em uma canga do lado da barraca montada numa praia deserta que se localiza no mesmo lugar que minha mente, entre o nada e o lugar nenhum, eu olho para o céu. Entre a lua e as constelações, uma estrela cai. Da Terra posso sentir sua poeira de prata alinhando não só as nuvens, mas também meu espírito.

E aquele antigo sentimento esquecido em uma gaveta no fundo da memória, sem aviso prévio sai e inunda minha vida e pensamento sem pedir licença. Como uma enchente que leva as casas embora deixando apenas lama e um fio dourado de velha esperança.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

luzes da cidade

Entrei no avião vazio e esperei, impacientemente que levantasse vôo. Estava com pressa de chegar embora tempo eu tivesse de sobra. O dia estava depressivo daquele modo que só os dias nublados sabem ser e quando finalmente eu tinha a visão da cidade, a pressa de súbito acabou.

Marina da Glória, praia de Copacabana, Arpoador, Ipanema, Leblon e Lagoa. O avião furou as núvens e o pôr-do-sol furou meus olhos de um modo calmo e delicado que me transmitia uma grande e estranha paz.

Quando desceu, as praias e montanhas tinham sido substituídos por faróis de carros, casas e prédios que me atraiam de um jeito que eu não sabia definir. Indiscutível e inexplicadamente queria fazer parte daquele encantador, misterioso e desconhecido jogo de luzes.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

A noite caía no Arpoador, pôr do sol turvo, embaçado pelas minhas lágrimas. Procurava retomar meus sentidos, mas as ondas entravam em minha mente, incapacitando-me de pensar, de sentir, de ouvir. O torpor me consumia por inteiro, sentia que se deitasse na pedra já fria não seria nunca capaz de me levantar. Um homem, com não mais de vinte anos me ofereceu ajuda. Eu aceitei um abraço e um ombro pra chorar. O vestido preto que me levara acidentalmente àquele lugar e a rosa vermelha que eu carregava em minhas mãos, fizeram o rapaz deduzir de onde eu tinha acabado de fugir. Timidamente me dizia que tudo ia ficar bem mas eu não conseguia ver como. Os esforços para as lágrimas não cairem eram em vão e em um determinado momento, perdi as forças e tudo ficou sombriamente escuro. Logo, minha mente também se apagou.

Apareciam os primeiros raios de sol por detras das montanhas, e batiam em meus dedos gelados, machucados pelo frio da madrugada. Os raios iluminavam meu rosto entorpecendo meu pensamentos e sentimentos até restar apenas a deslumbrante natureza daquela lugar pacato, que eu olhava, mas não conseguia ver. Meu irmão, que havia adormecido, vencido pelo desgaste emocional das ultimas semanas, acabava de acordar e se juntar a mim num longo abraço. Perguntava se tudo ia ficar bem. Eu repetia as mesmas palavras daquele desconhecido que nunca descobriria o nome e dizia que sim, que tudo ia ficar bem. Mas no fundo, eu ainda não conseguia ver como.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

dúvida

Escrever é difícil. Em minha mente vejo uma mistura de idéias que não consigo por no papel. As vezes tenho a sensação que para escrever bem, é preciso sofrer. Como já dizia Vinícius, ''é preciso um bocado de tristeza se não não se faz um samba não''.

Na minha frente vejo inúmeros papeis com rascunho de contos inacabados e me pergunto onde minha imaginação foi parar, não consigo terminá-los! Leio, releio e sei exatamente como quero que acabem, mas me faltam palavras. Então guardo-os novamente, ligo o som e abro um livro. Parece que todas as minhas idéias já foram tidas anteriormente por alguém.
E é assim, sem saber exatamente como e na dúvida do texto ser inteiramente meu ou não, que acabo este.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

para ana k.

Parou num bar, acendeu um cigarro. Tinha aquela conhecida sensação de vazio que sempre aparecia nos momentos menos esperados. Queria fugir. Não daquele lugar, mas dela. Ela e todo seu rock'n'roll onde fazia questão de se esconder, como se fosse uma proteção. Uma proteção para sua imensa fragilidade.

terça-feira, 15 de junho de 2010

E era assim que agora eu me sentia. Vazia e sem propósito. Como se estivesse vivendo na minha própria sombra, tentando cada vez mais encontrar um mundo que fugia às minhas mãos, escorregava pelos meus dedos. O meu próprio mundo. Minha alma tinha sido arrancada, levada para a escuridão, para um lugar distante que eu não podia compreender nem um vislumbre que fosse. E ele havia partido daquela tarde fria de dezembro, sem mal poder se despedir, consumido por aquela doença nunca diagnosticada. E eu tinha ficado aqui, sozinha, presa na única imagem que vinha a minha mente nos últimos meses. A dele num mudo olhar que dizia tudo que não havia sido dito nos anos em que nos reprimíamos, nos escondíamos de nós mesmos. E naquele olhar havia apenas uma súplica por tempo. Tempo para, mais do que dizer tudo que não havia sido dito, viver tudo que não havia sido vivido. E naquela tarde cinzenta e fria, sustentei seu último olhar, compartilhei seus últimos sentimentos.

Inteiramente largada e entregue a meu abismo interior, as lágrimas floresciam em meus olhos mas por algum motivo, não caiam. Naquele momento parecia mais fácil chorar e talvez por isso eu não conseguisse faze-lo. Ou talvez as lágrimas já tivessem secado em minhas longas e incontáveis noites em claro, onde tudo que conseguia ver era seu rosto. Um rosto que agora eu só veria em minha mente.

Anos antes, sentada em uma esquina, pensando no livro de minha vida que era facilmente relido por mim todos os anos e eu já sabia de cor a monotonia das páginas, ele veio. E permaneceu. Sempre naquela constante dúvida, naquele constante medo de assumir não para mim, mas para sí próprio seus sentimentos. Carregava consigo um ar de auto-suficiência que não passava de uma barreira de concreto contra o mundo e especialmente contra mim. Uma barreira que sim, o impedia de sofrer, porém não o deixava ser tocado. Com o tempo descobri uma falha na barreira e entrei. Acho que esse era o seu maior medo. Deu não só o conhecer, como entende-lo melhor que ele entendia a si próprio.