sábado, 29 de março de 2014

Estruturação

Ouvi dizer uma vez que quando uma lâmpada se apaga, você não troca de casa. Mas eu, não sei se por inconstância, impulso ou medo de desabamento, sempre acabo trocando minhas casas. Tenho medo da estrutura ter se abalado de forma irreparável, e tenho mais medo ainda de reformas. Reformas são longas, desgastantes e dolorosas. Eu sou rápida, imediatista e até um certo ponto desapegada. Mas no fundo, ela repara aquela sua antiga casa e a mantêm viva, acessa. É hora de aprender a cuidar das lâmpadas para que não queimem. É hora de aprender a reparar estruturas e não de derruba-las para reconstruir uma novamente, do zero.

Março 2014

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Sobre o Medo

Você tem medo de que? O que você faria se não tivesse medo? Deitado a meia luz de um abajur ele pensava em todas essas respostas e na complexidade delas. Não sabia por que, afinal, ninguém tinha perguntado absolutamente nada. Mas também, nem todas as perguntas (muito menos as respostas) tinham que vir de outra pessoa. Embora muitas vezes o medo estivesse sim, relacionado a outra pessoa. Uma vez tinha escutado as despreocupadas palavras de um sociologo numa informal conversa de bar que o medo não era um sentimento natural. Ele estava ali, pairando, fruto de uma sangrenta sociedade machucada que sofria uma dor aguda. Quantas palavras para um sentimento só meu Deus! Quanto rebuscamento!

Refletia sobre a essencia do medo e discordava assiduamente do tal sociólogo. Para ele, o medo vinha de experiências passadas, de experiências erradas. Para ele, só existia um tipo de medo. O medo de sofrer. E só tem medo de sofrer quem já sofreu.

 Agosto 2012


quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Pegou um caderno antigo onde deveria estar fazendo anotações sobre história da arte e tentou botar em ordem seus sentimentos. Apesar do frio da sala, lá fora podia-se ver o sol queimando as árvores e o vento o acalmando-as. No quadro, viam-se frases de Malevich e uma delas chamou sua atenção. ("...essencial é a sensibilidade em sí mesma, independentemente do meio em que teve origem."). Poderia ela, sabendo o meio em que sua sensibilidade teve origem, descarta-la? Pensou em que momento tinha se tornado sensível. Sugeriram o momento em que ela aceitou a situação. Talvez. Quem sabe? Agora estava vendo imagens de Renné Magritte e pensando no surreal. Surreal mesmo eram as pessoas tentando entender ou opinar na intimidade alheia.

Saiu da sala e foi tomada pelo vento quente do corredor. Não suportava o calor, nem a praia. Uma das coisas que menos gostava era sentir a areia grudando em seu pé, perna, corpo inteiro. O mesmo corpo que agora tremia, como se espiritos houvessem passado por ele. Seus pensamentos voaram para longe e de repente já não prestava mais atenção em nada. Gastou seus ultimos 3,50 com um café, não se preocupando muito com como voltaria para casa, esse era outro problema. Sentou no meio fio e acendeu um cigarro se sentindo assim menos sozinha. A cada trago, uma pessoa diferente passava. A cada trago se perguntava qual sentimento definiria cada uma daquelas pessoas. Agora, não saberia responder a propria pergunta se alguem a fizesse.

Maio 2011

domingo, 6 de maio de 2012

Não consigo dormir de maneira alguma amor. Virei de lado, troquei de roupa, lavei a louça, comi um pedaço de um chocolate ruim, te mandei mensagem. Acho que dormes amor, afinal, já é tarde.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Ela


Por trás daqueles olhos mel que beiravam o verde, tudo que se via era solidão e desamparo. Não que aquela menina ruiva de nome tão desimportante quanto sua própria existência num mundo de correria e egoísmo, não tivesse ninguém que se importasse com ela. Porém, não conseguia acreditar na real importância do valor que a davam. E era ali, naquele ponto de ônibus no Humaitá, quase em frente a casa de saúde São José que seus olhos miravam o tráfego mas nada viam se não o dia-a-dia das pessoas que passavam buzinando com pressa. Infiltrada em seu tempo psicológico enquanto pacientemente esperava o ônibus que a levaria pra um lugar que poderia ir a pé, ela refletia. Qual era o sentido das pessoas e por que cada uma que quebrava a barreira de sardas em seu rosto, conseguia de alguma forma, mais cedo ou mais tarde, encontrar um meio mesmo que inconsciente de machucá – la? Todos os seus pensamentos estavam voltados para a incrível capacidade das pessoas de decepcionar as outras pela simples falta de percepção do sentimento alheio. Ou talvez ela, mais uma vez decepcionada, fosse passiva demais e esperasse claramente mais do que o outro poderia dar... E mais uma vez ali estava, esperando sua vez de entregar umas moedas ao trocador. E mais uma vez ali estava, indo de encontro a seu prazer momentâneo. Mas ela não se importava. A intensidade no seu interior era tamanha que era preferível tê-lo apenas por um breve momento do que nunca. Uma parte bastava, embora superficialmente. E afinal, o sofrimento de não possuí-lo por inteiro não era de todo ruim, dava a ela algo a pensar. Estava convicta também, de que tudo que é inteiramente seu acaba mais cedo ou mais tarde ficando depressivamente desinteressante.
Mais uma vez se encontrava na cama daquele velho apartamento, sempre de cortinas fechadas e forte umidade. Reparou pela primeira vez que as paredes precisavam ser pintadas e clamavam a luz do sol. Depois de uma rápida análise do quarto, seus olhos e pensamentos focaram novamente na única pessoa que de fato importava. A cada toque de seus lábios no dele, faltava-lhe o ar e com os olhos fechados levava a mão a seu rosto, como se pudesse assim impedi-lo de partir. E cada fibra de seu corpo, cada fio de pensamento gritava em desespero para que ele não a soltasse e aquele momento nunca acabasse. Não pelo momento em si, mas pela incerteza de tê-lo de novo. Silenciosamente serviu uma xícara de café e assim permaneceu. Preferia os olhares e gestos às palavras. Essas eram fáceis e vazias. Na maioria das vezes não significavam nada. Olhares e gestos sim eram intensos e verdadeiros. Palavras podiam ser manipuladas e calculadas. Olhares, nunca.
Há muito havia desistido de seus esforços para aparentar desinteresse e pouca causa. Estava claro que ele era a razão dela, como uma droga que vicia até a última gota e mata de uma forma extremamente lenta e dolorosa. Como uma droga que quando se está longe só se quer estar perto e quando se está perto, o maior desejo é que assim permaneça. Independente das consequências. Afinal, a dor consequênte era o que mais facilmente a levava a um vazio mental, como se por instantes estivesse imune ao mundo. E era bom. E bastava. E quando o efeito de súbito ia embora, ela entrava no mesmo ônibus e encontrava a mesma pessoa no mesmo quarto. Trocava os mesmo olhares e gestos intensos e tomava a mesma xícara de café velho, frio e amargo. Para então voltar a sua velha, fria, amarga e estranhamente confortável dor.
Abril de 2010

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Cansei do incerto e do inconstante, quero o certo e a certeza, quero o fixo. Quero a segurança. A sorte de um amor tranquilo. Quero a paz, as surpresas boas da rotina. Quero o oposto de mim.

domingo, 21 de novembro de 2010

paradoxo

E se de subito a vontade se esvair pelos bueiros escuros das ruas sem dono dessa cidade abandonada? O medo de sofrer só causa mais sofrimento