domingo, 21 de novembro de 2010

paradoxo

E se de subito a vontade se esvair pelos bueiros escuros das ruas sem dono dessa cidade abandonada? O medo de sofrer só causa mais sofrimento

Eu vejo a vida passar nos vagões do metrô as seis da tarde. Ela passa nos olhos de cada pessoa que silenciosa e duramente espera chegar em seu destino. São olhos de dor, olhos vazios, olhos cansados, olhos que choram e olhos que fecham tentando dormir. A vida passa nas mãos que as equilibram em pé no metrô. São mãos maltratadas pelo trabalho manual, mãos com o esmalte já descascando, mãos que carregam um anel dourado, mãos que se fecham com raiva e mãos que carregam livros para tentar fazer a própria vida passar mais rápido. Passam pessoas de todas as idades, cores e classes sociais. E cada par de olhos e de mãos, e cada rosto e cada modo de andar parecem carregar um pouco da história de cada uma dessas pessoas.

domingo, 14 de novembro de 2010

Tem horas que eu não sei mais diferenciar onde acaba o medo e começa o desespero. Onde acaba o pânico e começa a angústia. Ou talvez, como no ponto em que o rio encontra o mar, eles se misturem e por instantes sejam um só. O estranho é que a nascente é sempre feita de alegria, e em algum ponto desconhecido se transforma. Ah, se eu soubesse onde fica o ponto… O buraco talvez não fosse tão fundo e nem a subida tão difícil. Mas aceitar faz parte e depois de tanto tempo, a dor e o medo já corroeram minha pele e cicatrizaram por dentro, de um modo que fazem parte de mim e talvez eu já não queira mais me livrar.